Por:Julio Machado
Podcast
abr 2022
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Vamos concluir hoje essa série de podcasts onde tratamos do relacionamento pais e filhos. Falaremos sobre alguns detalhes que podem fazer toda a diferença no sentido de aumentarmos os depósitos na conta emocional dos nossos filhos e cônjuges. Nesta conta emocional aumentamos nossos créditos com atos amorosos que constroem a confiança e o respeito, mas também podemos perder créditos com os maus tratos e a nossa desatenção. Quando temos um bom saldo nesta conta emocional do relacionamento, a comunicação fica aberta e livre.
Vamos então mostrar como algumas pequenas gentilezas ou mudanças de atitudes, aparentemente de pouca importância, podem fazer a diferença, tanto para quem as dá como para quem as recebe.
Por exemplo, conheço um pai que chegou à conclusão de que o comportamento da sua filha mais velha estava criando muitos problemas para a família. Certa noite, resolveu dizer à filha que ela teria de seguir certas normas para continuar morando na cada dos pais. Enquanto esperava ela chegar do trabalho, pegou uma ficha e fez a lista das modificações que ela precisaria aceitar para poder melhorar a convivência familiar. Em seu penoso estado de espírito, virou a ficha de papel. O verso estava em branco. Decidiu então relacionar os melhoramentos que ele faria caso a filha concordasse com as mudanças sugeridas. E ficou pasmo ao ver que a sua lista era maior do que a dela.
Então, com uma outra atitude de espírito, ele a recebeu com humildade e tiveram uma conversa bem construtiva, começando a falar primeiramente do seu lado da ficha. Sua opção foi começar a trabalhar de dentro para fora. Ao invés de pedir a mudança da filha, ele ofereceu em primeiro lugar a sua própria mudança, o que surtiu grande efeito.
Uma outra dica de ouro é antecipar-se a cobrança da atenção. Dê uma olhada e veja o quanto da nossa atenção é dada aos nossos filhos e cônjuges somente no momento em que eles a pedem ou, às vezes, até nos cobram. Normalmente nos apressamos em suprir essa falta, mas fica sempre uma insatisfação no ar. É como aquele beijo que recebemos só quando pedimos ou como aquela saída a um restaurante que só aconteceu depois de muita insistência. Fica faltando alguma coisa! Preferiríamos receber esses gestos de atenção livremente, porque o outro quis dar e não porque nós cobramos. Entendemos que o que é feito livremente tem mais valor. Tal qual aquela lembrancinha que a gente nem esperava receber; ela tem para nós muito mais valor do que um presente em datas oficiais. Justamente porque não havia nenhuma obrigação em dar, portanto foi sincera e verdadeira.
Então se nos anteciparmos à cobrança e dermos uma pequena atenção, seja por um agrado ou um carinho, mas por uma deliberação nossa, o outro ficará gratamente surpreendido e se sentindo muito valorizado.
Imagine você chegar perto do seu filho e lhe oferecer uma massagem nos pés? Alguns vão até estranhar achando que tem alguma coisa por trás. Ou que tal sugerir um jogo de baralho em família ao invés de ficarem mudos diante da TV. Ou surpreender o outro com um bilhete carinhoso na sua pasta escolar ou na bolsa de trabalho. São pequenos gestos, mas que dão grandes resultados. Chegam a ser milagrosos.
Outra atitude da nossa parte que aparentemente pode parecer uma fraqueza, mas que na verdade é um gesto de força e coragem é o ato de pedir desculpas. Talvez não exista nada que ponha tanto à prova nossa capacidade de iniciar mudanças quanto pedir desculpas a outra pessoa.
“Filho, desculpe-me se o deixei constrangido diante de seus amigos. Eu errei”. “Querida, desculpe-me por ter sido brusco com você. Estava tão envolvido com minha própria agenda que eu parecia mais um rolo compressor. Por favor, perdoe-me”.
Às vezes é incrivelmente difícil pedir desculpas, mas este esforço corresponde a dizer: “Nosso relacionamento é muito importante para mim”. E esse tipo de comunicação alimenta a Conta Bancária Emocional.
Para muitos de nós, o desafio maior é o ato de perdoar. Quando perdoamos, abrimos canais para a confiança e o amor incondicional. Lavamos o nosso próprio coração. Também removemos o maior obstáculo que impede os outros de mudar – a sensação de culpa. A culpa é uma espécie de dívida moral que bloqueia o sujeito. Ele se sente na obrigação de quitá-la antes de qualquer outra coisa. E se não consegue, pois não se sente perdoado, fica então paralisado e impotente.
Perdoamos por compreender que não podemos julgar e por também admitir que também queremos ser perdoados pelos nossos erros, pois é perdoando que nos perdoamos e também criamos a possibilidade de sermos perdoados.