Por:Julio Machado
Podcast
fev 2018
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Como prometemos na semana passada, veremos agora como fazer a dosagem das nossas características, para tirarmos o melhor proveito delas.
Fomos educados com a crença de que para algo ser divino tem que ser perfeito. Estamos errados. Na verdade, ser divino é é ser inteiro, e ser inteiro é ser tudo: o positivo e o negativo, o bom e o mau, o santo e o pecador. Precisamos compreender que para levarmos uma vida completa é necessário integrar todos os aspectos que nos compõem – aqueles que nós chamamos de “positivos” e aqueles que chamamos de “negativos” – em um magnífico Todo.
Quando conseguimos nos desvencilhar das antigas crenças que criam a separação dentro de nós, poderemos olhar com mais isenção para a nossa sombra. Veremos que aqueles comportamentos chamados “negativos” têm também o seu benefício. Tudo o que temos a fazer é empregá-los de forma adequada ao invés de reprimi-los ou rejeitá-los. Simplesmente usá-los na dosagem certa.
Quando encaminhei uma reflexão neste sentido num dos meus seminários, percebi que um dos participantes ficou bem impactado e me escreveu assim, no dia seguinte:
“Senti como se tivesse sido atingido por um raio. Nunca tinha ouvido nada parecido, e mesmo assim sentia no meu coração que isso fazia muito sentido para mim. Minha arrogância, que eu olhava com o nariz torto, não era nada mais do que confiança amplificada. O que as pessoas chamavam de “estouvamento” ou “imprudência” em minha juventude não era nada além de espontaneidade e pensamento positivo, também ampliados além do esperado. E a atitude invasiva que por vezes incomodava as pessoas, era apenas minha capacidade de liderança, minha agilidade verbal e minha disposição para vencer – todas colocadas três pontos acima do necessário. Percebi que todos esses aspectos do meu ser eram qualidades pelas quais eu fora elogiado vez por outra. Não era de admirar que eu ficara confuso!”
Numa outra ocasião, falando sobre esse assunto com uma amiga, a certa altura da conversa, eu lhe disse: “Você é mandona”. Ela empalideceu na hora e me perguntou porque eu estava lhe dizendo isso. Ela continuou dizendo:
– Eu tinha consciência de que era assim, mas sempre procurei desesperadamente me livrar dessa parte do meu ser. Procurara me empenhar o bastante para ser doce e generosa a fim de compensar esse horrível traço do meu caráter…ser mandona.
Então, lhe perguntei por que ela odiava essa parte dela mesma. Ela afirmou que era o traço da sua personalidade que lhe causava mais vergonha e que o fato de ser mandona já havia lhe causado muito sofrimento. Foi então que lhe disse: “O que você não assume toma conta de você”.
Ser mandona não é um defeito. Só se torna um problema quando você é mandona em dose exagerada. Já que você não assume o seu lado mandona como uma característica sua e tenta reprimi-lo, quando ele escapa do seu controle normalmente aparece de maneira exagerada e inadequada. Em pequenas doses e na hora apropriada ser mandona pode vir a ser até uma necessidade. Pode ser muito útil em situações estressantes em que se exige uma prontidão na ação. Ou quando se lida com adestramento de animais ou com pessoas socialmente desajustadas. Ser mandona é útil também.
Na infância, nos disseram que existem duas espécies de pessoas: as boas e as más. Quando crianças, nos esforçamos para exibir nossas boas qualidades e para esconder as más. Queríamos, desesperadamente, nos livrar de todas as partes do nosso ser que eram inaceitáveis para a nossa mãe, nosso pai, nossos irmãos e colegas. Quando ficamos um pouco mais velhos, outras pessoas entraram em nossa vida com todas as suas opiniões, e percebemos que tínhamos de esconder ainda mais coisas que faziam parte de nós mesmos.
Jung, o famoso psicólogo, disse, certa vez: “Prefiro sentir-me inteiro do que ser bom”. Quantos de nós traíram a si mesmos para serem bons, amados e aceitos? Precisamos reviver a experiência da nossa fase de inocência que nos permite aceitar tudo o que somos a cada momento, pois só dessa forma teremos uma existência saudável, feliz e completa. Esse é o caminho. No livro de Neale Donald Walsch, Conversando com Deus, ele diz:
O amor perfeito está para o sentimento como o branco total está para a cor. Muitos pensam que o branco é a ausência de cor, mas não é. Na verdade, é a abrangência de todas as cores. O branco é feito de todas as cores combinadas. Assim também, o amor não é a falta de emoção (ódio, raiva, desejo, ciúme, dissimulação) mas a soma de todos os sentimentos. É a soma total, o montante agregado, o todo.
O amor é abrangente: aceita toda a ordem de emoções humanas – as emoções que admiramos e aquelas que tememos.