Por:Julio Machado
Podcast
abr 2018
CLIQUE NO PLAY PÁRA OUVIR
Vamos então prosseguir com o tema abordado no podcast anterior, quando introduzimos a clássica questão do espelhamento. Considero isso um dos pontos mais importantes e, ao mesmo tempo, de mais difícil compreensão no que se refere ao autoconhecimento a partir das relações humanas. Aqui vemos nitidamente dois paradigmas sendo oferecidos para nós: ou o outro é separado de mim e o que ele faz ou deixa de fazer não tem nada a ver comigo; ou então o outro está intimamente ligado a mim e o que ele é, me mostra também uma parte do que eu sou.
Vamos clarear isso com mais alguns exemplos da vida real: Samantha odiava o pai porque ele era muito mesquinho – pão duro mesmo. Ela passou toda a sua vida adulta tentando evitar ser mesquinha; para isso, vivia comprando presentes sofisticados para toda a família. E convidava os amigos para comer fora e assistir a espetáculos, sempre pagando tudo. Samantha tinha orgulho de ser generosa e despojada. Quando eu lhe disse que para poder perdoar seu pai e ficar livre do ressentimento ela precisaria assumir os próprios impulsos para ser mesquinha, ela não aceitou de ver dessa forma. Certo dia, telefonou-me do supermercado. Ela percebera que passara quase uma hora olhando para diferentes produtos, comparando preços e o peso líquido deles em cada embalagem, para poder economizar alguns centavos. Ficou chocada ao se dar conta de que comprava uma blusa por quinhentos reais sem pestanejar, mas não queria pagar vinte centavos a mais por uma caixa de lenços de papel de sua preferência. De repente, o alarme soou para Samantha. Ela notou que era mesquinha como o pai, só que de um jeito diferente. O choque por descobrir isso levou-a às lágrimas. Samantha gastara tanta energia tentando não ser como o pai! Escondera por tantos anos seus impulsos em ser mesquinha e, de repente, eles estavam ali, dentro dela, tão evidentes.
Falando agora de mim mesmo, há um tempo atrás, percebi que eu ficava perguntando às pessoas que conheço com que freqüência elas davam uma pausa para sua meditação. Eu as lembrava de como é importante essa meditação diária e que afiar o seu machado poderia fazer toda a diferença no rendimento do seu dia. Às vezes notava até uma certa impaciência e intolerância da minha parte quanto à displicência dos outros em não cuidarem dessa afinação pessoal.
Num dado momento tive que me render à pergunta que não queria calar: por que eu estava tão incomodado com relação à meditação dos outros? Quando examinei meus motivos, cheguei à conclusão de que eu costumava também falhar com freqüência na minha prática de meditação. Uma parte minha queria passar mais tempo voltada para dentro e em silêncio, mas o meu lado prático acabava justificando o adiamento em função do trabalho e de outros afazeres. Quando percebi que estava dizendo aos outros aquilo que eu mesmo precisava ouvir, fui capaz de recolher minhas projeções e julgamentos, para fazer o meu próprio dever de casa.
É sempre bom lembrar daquele velho adágio que diz: “Preste atenção aos seus próprios sermões
Se fico aborrecido com a arrogância de alguém, é porque não estou assumindo a minha própria. Se a arrogância do outro me incomoda, preciso examinar bem de perto, todos os recantos da minha vida, e me perguntar o seguinte: no passado, quando fui arrogante? Estou sendo arrogante neste momento? É possível que eu me comporte com arrogância algum dia? Com certeza eu estaria sendo arrogante se respondesse não a essas perguntas, sem me examinar com cuidado ou sem perguntar a outras pessoas se alguma vez me viram agindo com arrogância. Se eu aceitar a minha própria arrogância, então não me aborrecerei com a dos outros. Posso até percebê-la, mas ela não me afetará.
Nossa carapaça exterior é que enfrenta o mundo, escondendo as características que constituem sua sombra. Nossas sombras são tão bem disfarçadas que, muitas vezes, mostramos uma face para o mundo quando, de fato, é o extremo oposto que realmente está dentro de nós. Algumas pessoas usam uma camada de agressividade, para esconder sua sensibilidade; ou uma máscara de humor, para cobrir sua tristeza. As pessoas tipo “sabem tudo”, normalmente estão disfarçando o fato de se sentirem burras, enquanto aquelas que parecem tão gentis podem esconder um canalha dentro de si. O espelho da vida nos ajuda a olhar além de nossas máscaras sociais para descobrir nosso eu autêntico.
Se você não pode ver seu próprio lado escuro você não poderá sentir compaixão por outros que estão agindo da mesma maneira. Você os julgará, sem perceber que as mesmas características que você rejeita neles são as que você não pode aceitar em si mesmo. Seu ódio contra seu inimigo é somente a projeção de seu ódio por você mesmo. Mas você pode reverter isto começando a perdoar a si mesmo através do melhor dos métodos: perdoando os outros
É paradoxal, mas quando você aceita sua própria sombra, você se torna a luz e a possibilidade de se tornar mais amoroso lá onde o amor parecia ser impossível. O que é uma pessoa iluminada, senão aquela que tem menos sombras dentro de si? Que a cada dia diminui mais o julgamento sobre si mesma e, consequentemente, sobre os outros? Uma pessoa que se aceita na sua totalidade .
Valeu pessoal! Espero que este material esteja lhe ajudando a ser mais feliz, a partir de uma maior auto-aceitação.