Por:Julio Machado
Podcast
set 2021
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Na semana passada introduzimos o primeiro podcast de uma nova série que trata do relacionamento pais e filhos. A nossa conversa girou em torno da culpa que os pais sentem por não terem dado a seus filhos tudo que gostariam, como também da compreensão de que também sermos pais perfeitos não lhes fariam nenhum bem. Isso porque todas as pessoas precisam aprender a lidar com frustrações, privações e sofrimentos, pois só assim poderão se fortalecer.
A autoestima e a segurança dos nossos filhos são como uma planta. Ela não cresce forte e saudável apenas por lhes darmos água e adubação, mas também por enfrentar as podas e os maus tempos. Ao invés de gastar a nossa energia com preocupações e arrependimentos inúteis, deveríamos elevar nossos pensamentos e fortalecer a nossa confiança de que as feridas de nossos filhos se tornarão pérolas, por encontrarem, justamente nestas feridas, sua própria força e vocação. Os próprios filhos têm a responsabilidade de assumir sua própria história de vida e reconciliar-se com seu passado. Não existe infância ideal. Os limites que experimentamos enquanto crianças são benéficos. Do contrário, todos teríamos a impressão de viver sempre no país das maravilhas. Mas o mundo não é nenhum país das maravilhas, e sim um lugar de desafios e escolhas dentro do qual devemos tomar posição.
Alguns se recusam a crescer porque desejam ficar na postura de vítimas. Num caso desses, é sempre fácil colocar a culpa nos pais. Mas, na verdade, precisamos admitir que a recusa de assumir a responsabilidade pela própria vida é uma escolha de cada filho. Filhos de uma mesma família, com as mesmas oportunidades ou com as mesmas limitações, podem escolher tomar rumos de vida completamente diferentes. E não adianta os pais questionarem que por terem dado uma mesma educação, os resultados foram tão diferentes para cada filho. A diferença acontece justamente porque cada filho escolhe montar sua pizza com os ingredientes que ele vai selecionando dentro do armazém familiar.
Vejam a história de João e Mário. Dois homens que escolheram tomar rumos bem diferentes, apesar do passado comum.
João é um importante empresário e mora numa região nobre da cidade, enquanto isso, em num bairro pobre de uma outra capital, vive Mário. Como fazia todas as manhãs, após tomar café com a esposa e os filhos, João levou-os ao colégio e se dirigiu para uma de suas empresas. Ao chegar na hora do almoço, ele foi para casa curtir a família. A tarde tomou conhecimento que o faturamento do mês superou os objetivos e mandou anunciar que todos os funcionários teriam gratificações salariais no mês seguinte. Como já era sexta-feira, João foi ao supermercado e depois dirigiu-se à uma universidade a fim de dar uma palestra para estudantes, sobre motivação para vencer na vida.
Enquanto isso, Mário, como fazia todas as sextas-feiras, foi para o bar jogar sinuca e beber com amigos. Já chegou lá nervoso, pois estava desempregado. Um amigo seu tinha lhe oferecido uma vaga em sua oficina como auxiliar de mecânico, mas ele recusou, alegando não gostar deste tipo de trabalho. Ele, então, perguntou a Mário:
– “Diga-me, por favor, o que fez com que você chegasse até o fundo do poço desta maneira?”
Mário então desabafou:
– Foi a minha família… Meu pai foi um péssimo exemplo. Ele bebia, batia em minha mãe, não parava em emprego nenhum. Tínhamos uma vida miserável. Quando minha mãe morreu doente, por falta de condições, eu saí de casa, revoltado com a vida e com o mundo. Tinha um irmão gêmeo que também saiu de casa no mesmo dia, mas foi para um rumo diferente, nunca mais o vi. Deve estar vivendo da mesma forma que eu.
João terminava sua palestra para estudantes quando um aluno ergueu o braço e lhe fez a seguinte pergunta:
– “Diga-me, por favor, o que fez com que o senhor chegasse até onde está hoje, um grande empresário e um ser humano exemplar?”
João emocionado, respondeu:
– “Foi a minha família. Meu pai foi um péssimo exemplo. Ele bebia, batia em minha mãe, não parava em emprego nenhum. Tínhamos uma vida miserável. Quando minha mãe morreu, por falta de condições, eu saí de casa, decidido que não seria aquela vida que queria para mim e minha futura família. Tinha um irmão gêmeo, chamado Mário, que também saiu de casa no mesmo dia, mas foi para um rumo diferente, nunca mais o vi. Deve estar vivendo da mesma forma que eu.
Como diz o provérbio: Cada cabeça uma sentença. Não são os pais que definem que quadro cada filho vai pintar. O máximo que podemos fazer é mostrar como pintamos o nosso e dar a eles as tintas e o pincel. O resto é com eles.
Como diz Kalil Gibran, no livro O Profeta:
Vossos filhos não são vossos filhos, mas filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vieram de vós, mas não são vossos e embora morem convosco não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos, por que eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas. Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonhos.
Valeu pessoal. Espero que você pai ou mãe, esteja se sentindo mais aliviado e fortalecido com essas reflexões. Se quiser deixe o seu comentário no site www.juliomachado.com.br e uma inspirada semana para você.