Por:Julio Machado
Podcast
nov 2021
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Vamos continuar o nosso papo sobre educação de filhos. Já diziam os antigos: um exemplo vale mais do que mil palavras. E que o seu sim seja sim e que o seu não seja não.
A cena é clássica e, dependendo da intensidade, pode ser inesquecível. A mãe precisa ir ao supermercado e decide levar seu filho junto porque não tem com quem deixá-lo. Está tudo muito bem até que o pequeno, já cansado e querendo ir embora, pega uma enorme barra de chocolate. A mãe sabe que ele não costuma comer aquilo
e devolve a guloseima à prateleira, explicando que naquele dia não dá para levar o doce. De repente, sem mais nem menos, a criança se atira ao chão, começa a rodar em círculos, gritar e chorar desesperadamente. E a pobre da mãe, sem saber o que fazer e com vergonha de todo mundo que assiste ao show, acaba levando o chocolate para que o filho pare de berrar.
O que fazer numa situação dessas? O ideal é encerrar a compra, levar o filho para casa e, no caminho, explicar educadamente que aquele comportamento não é adequado. Não adianta dar o que ele quer nem ficar mais nervosa do que a criança. Também é preciso levar em conta que as crianças têm um limite para aguentar um supermercado.
Um dos maiores desafios para os pais no momento de colocar limites é a consistência da palavra não.
Quando utilizamos a palavra não numa boa medida, a criança ou o adolescente saberão que ali existe um limite que deverá ser respeitado. E, principalmente, dizer um não com explicação e não simplesmente, quando o filho ou a filha perguntarem o porquê… responder o famoso porque não.
Agora o “não” gratuito, sem reflexão, num primeiro momento deixa a criança indignada porque ela simplesmente quer. Então a criança insiste, insiste, e muitas mães e pais acabam cedendo porque o “não” foi falado muito mais por automatismo em dizer não, do que por um motivo realmente consistente. A criança logo percebe que basta choramingar para conseguir o que deseja, e assim o “não” perde seu sentido. Mais tarde a criança será taxada de desobediente e os pais não se darão conta de que eles mesmos a ensinaram a não dar importância a um limite colocado.
Como já abordamos no podcast 52 que trata da preocupação com os filhos, um dos fatores que mais dificulta a colocação dos necessários limites e a sustentação do não… é a culpa que os pais sentem em relação à educação que dão aos seus filhos. Culpa por não estarem presentes, por não darem o suficiente, por terem se divorciado etc. Esta culpa faz com que desenvolvam um sentimento de que estão em débito com os filhos e, desta forma, pensam que deixar fazer, ou dar algo quando não era para dar, é uma forma de compensar a sua dívida com eles.
Dar tudo o que o filho pede com o argumento de que se hoje eu tenho o dinheiro porque não comprar, não é a melhor política para educar filhos. Aí já podemos imaginar no que vai dar. Jovens crescendo com baixíssima tolerância às frustrações e sem noção de limites e que mais tarde, em alguns casos, a polícia é que irá colocar. Melhor fazem aqueles pais que vão investigar e tratar do seu sentimento de culpa para poderem ser melhores educadores.
Criar limites modula o comportamento e ajuda a criança a desenvolver o respeito pelo outro. “Aprender a aceitar o não é super importante para moldar o humor dos filhos e fazê-los entender, desde pequeno, que não se pode ter tudo”. Para isso, é importante combinar com eles algumas regras e fazê-las serem respeitadas. Ninguém pode, por exemplo, interromper alguém que está falando, dar um tapa no rosto do colega, roubar o doce do irmão ou dizer palavrões em público. Cabe aos adultos transmitir essas normas de comportameto, além de garantir que elas sejam obedecidas. Do contrário, o menino ou a menina vai entender que tudo aquilo não passa de um falatório momentâneo e que pode ser facilmente vencido por uma bela birra
Não tenha medo de tomar atitudes que possam ser desagradáveis para você, mas necessárias para o aprendizado da criança. Ninguém gosta de colocar o filho de castigo, mas às vezes ele vai precisar desse momento, sozinho, para refletir sobre uma atitude malcriada ou algo do gênero. E lembre-se o seu filho continua a ser uma boa pessoa, apesar do seu mau comportamento.
Por fim, tente se guiar pela sua intuição, mantendo sempre a calma diante de um show de pirraça no supermercado ou no shopping. Uma birra aqui, outra ali, sempre acabará acontecendo e isso é perfeitamente normal. Não tenha medo de dizer não. Pode ser difícil ver o pequeno chorar, mas tenha a certeza de que ele está aprendendo uma lição. No fundo, no fundo, a criança fica feliz e aliviada quando vê que existem ao seu lado pessoas seguras e amorosas capazes de lhe dizer, o que deve ou não fazer.
Isso lhe dá segurança e um sentimento de que alguém se importa com ela.