Por:Julio Machado
Podcast
jan 2022
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Você conhece algum amigo seu ou amiga que tem filhos pequenos e que se estressam demais para conseguir que eles escovem os dentes, tomem banho ou guardem algum brinquedo jogado?
Você já viu um pai ou mãe irados com a desobediência ou a indiferença dos filhos adolescentes, a ponto de querer surrá-los de raiva por não atender a um pedido seu ou a não cumprir com algo que foi combinado?
Pois bem, conversaremos hoje sobre a questão da autoridade na relação pais e filhos. Quero desenvolver aqui uma ideia bem simplificada e certamente falível, mas que pode ser útil para não nos desgastarmos tanto e sermos mais bem sucedidos na nossa tarefa educativa.
Gosto de pensar que o problema da autoridade na relação pais e filhos é uma questão de débito e crédito. É simples como ter uma conta no banco. Quem deposita tem crédito e daí pode fazer os saques quando precisar de dinheiro. Quem não faz depósitos regularmente pode ficar em apuros quando precisar de sacar, daí tem que forçar a barra e até entrar no cheque especial.
Nossos filhos teriam também uma conta bancária emocional na qual acumulamos créditos a cada vez que lhes damos uma atenção gratuita, que brincamos com eles ou nos interessamos por coisas do mundo deles. Então dentro dessa nossa comparação, quando nossos filhos resistem em nos atender, quando fazem muita birra ou desobediências, é porque estaríamos com pouco crédito com eles. O contrário, quando temos mais crédito na conta emocional deles, nossos filhos tem facilidade e gosto em atender o nosso comando.
Dá uma olhada. Lembre-se daquele dia em que você passeou ou participou de alguma atividade com seu filho ou filha, onde vocês conversaram, brincaram e riram juntos. Ao chegar em casa você pediu para algum deles jogar o lixo fora, ou guardar os sapatos no armário ou que se aprontassem para dormir. Qual foi a conduta deles? Provavelmente eles atenderam prontamente, como se estivessem retribuindo aquilo que receberam ao longo do dia. Toda esta atenção dada durante esta convivência foi convertida em créditos emocionais, como num sistema de milhagem. Você apenas sacou aquilo que já havia depositado.
O contrário, se raramente estamos brincando ou nos envolvendo com eles, se a nossa presença é resumida ao ato de dar ordens e fazer com que as tarefas sejam cumpridas, neste caso ficamos na situação de quem só está fazendo saques numa conta sem fundos. O filho ou filha resiste em nos atender para não ficar no prejuízo, pois se percebem mais dando do que recebendo. E não adianta pensar que só porque você é seu pai ou sua mãe eles tem que te obedecer agradecidos, ou que o que você está lhes pedindo não é nada mais do que a obrigação deles. Isso é uma idéia que funciona para os adultos e não para as crianças
É aí então que os pais vão precisar usar da força ou das chantagens emocionais para compensar a sua falta de crédito, fato que lhes impede de ter uma autoridade natural sobre seus filhos. Diríamos que, neste caso, os pais estariam exercendo mais o poder do que a autoridade.
James Hunter, no seu livro O monge e o executivo, nos apresentou uma definição sobre poder e autoridade que vale não só para o meio empresarial, mas também se aplica perfeitamente à relação pais e filhos:
PODER É A FACULDADE DE FORÇAR OU COAGIR ALGUÉM A FAZER SUA VONTADE, POR CAUSA DE SUA POSIÇÃO OU FORÇA, MESMO QUE A PESSOA PREFERISSE NÃO O FAZER.
Já a AUTORIDADE É A HABILIDADE DE LEVAR AS PESSOAS A FAZEREM DE BOA VONTADE O QUE VOCÊ QUER, POR CAUSA DE SUA INFLUÊNCIA PESSOAL.
Não é justamente esta autoridade que todo pai ou mãe gostariam de ter sobre os seus filhos. Ou um gerente sobre os seus comandados. Que as pessoas fossem mais voluntariosas?
Acho que todo pai ou mãe precisa se utilizar tanto o poder quanto a autoridade para educar seus filhos. A questão é: o que utilizamos mais. Que postura está predominando mais no nosso relacionamento: o poder ou a autoridade. Isso fará toda a diferença para se medir o estresse do relacionamento. Quanto mais autoridade mais leveza e prazer; quanto mais poder mais desgaste e sacrifício.
Lembrando da nossa comparação com a conta bancária, quanto mais os pais tem crédito com seus filhos, mas fazem valer a sua autoridade natural. O contrário, na falta desse crédito, precisarão utilizar do poder para não perderem o controle da situação. Vale lembrar que esta ideia que apresentamos aqui sobre a autoridade em relação ao débito e crédito emocional não se aplica a todas as situações. Não existem fórmulas infalíveis. Por mais que os pais cuidem de manter esse saldo positivo na conta emocional dos seus filhos, algumas vezes precisarão também lançar mão do seu poder, agindo de um modo mais firme de maneira a fazer valer a sua vontade. É só não abusar da dosagem.