Por:Julio Machado
Podcast
abr 2022
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Hoje vamos acordar o nosso lado maluco beleza que anda meio inibido no meio de uma sociedade que cultiva tanto as aparências. Inspirei-me num texto de Carlos Aveline onde ele escreve um elogio aos idiotas.
Pois bem, impressiono-me a cada dia com o medo que a maioria das pessoas têm de parecerem burras ou idiotas. Temos uma certa vergonha em dizer que não conhecemos determinado assunto ou que nunca ouvimos falar de uma certa pessoa, de um livro ou um filme. Também temos muito receio em emitir uma opinião contrária à onda do momento e sermos taxados como esquisitos ou idiotas. A sinceridade parece contrariar as normas da convivência e da boa educação modernas.
O exemplo de Albert Einstein, um dos maiores gênios da ciência moderna, é bem ilustrativo. No início da vida, ele recusou-se a falar até os três anos de idade. Seus pais – pessoas sensatas – pensavam que ele fosse um retardado mental. Mais tarde, quando Einstein ingressou na escola, ele foi novamente considerado imbecil. Seu biógrafo foi obrigado a admitir:
“Para os colegas de classe, Albert era uma anomalia que não demonstrava interesse nenhum pelos esportes. Para os professores, era um idiota que não conseguia decorar nada e se comportava de modo estranho. Em vez de responder imediatamente a uma pergunta, como os outros alunos, ele sempre hesitava. E quando respondia, movia os lábios em silêncio, repetindo as palavras.”
Décadas mais tarde, Einstein deu o troco, qualificando o nosso moderno sistema educacional como uma estrutura que reprime a inteligência e busca fabricar idiotas obedientes. Ele dizia: “A maioria dos professores perde tempo fazendo perguntas para descobrir o que o aluno não sabe, quando a verdadeira arte consiste em descobrir o que o aluno sabe ou é capaz de saber.”
O filósofo Sócrates, escolhido como o homem mais sábio da Grécia, explicou: “Eu e os homens notáveis de Atenas nada sabemos, e a única diferença entre eu e eles é que eu, nada sabendo, sei que nada sei, enquanto eles, nada sabendo, pensam que sabem muito”.
Quando superamos a necessidade de parecer inteligentes e deixamos de lado o medo de parecer idiotas, libertamos nosso potencial criativo e a nossa capacidade de conhecer novos aspectos da consciência. Certamente pareceremos malucos beleza diante de um mundo de tantas certezas.
Ouvi uma história de um homem que era tido como louco na sua cidade interiorana. A rapaziada, a título de zombaria, mostrava para ele duas moedas pedindo que ele escolhesse qual das duas queria receber: uma era maior de 0,25 centavos e a outra era menor de 0,50 centavos,. E ele sempre pegava a maior de 0,25 centavos provocando as risadas da turma e reforçando a sua fama de idiota.
Certa vez um rapaz, incomodado com a situação humilhante do sujeito, resolveu secretamente sugerir a ele que da próxima vez pegasse a moeda menor que valia mais e assim acabaria com aquela chacota. Sorrindo, o doido disse que sabia o valor real de cada moeda, mas que continuaria pegando a moeda de menor valor, pois nesses anos ele já havia conseguido obter mais de cem reais fingindo de idiota. Se ele bancasse o esperto e pegasse a moeda que valia mais, a brincadeira certamente acabaria. E a pergunta fica: quem fazia quem de bobo heim?
Embora seja verdade que nem todo idiota alcance a iluminação, é certo que todo iluminado tem algo de idiota e parecerá um tolo aos olhos de muita gente. O aprendiz da arte de viver deve romper os limites das chantagens do que é “politicamente correto” e deixar de lado os mecanismos da ignorância coletiva que buscam impor falsos consensos em função dos interesses desse ou daquele esquema de poder.
Mas, para fugir da idiotice coletiva organizada – com sua psicologia de rebanho que proíbe o indivíduo de pensar por si mesmo – é indispensável vencer o medo de que nos seja colocado o rótulo de ovelha negra, ou de idiota. Só assim poderemos viver com responsabilidade própria e independência pessoal.
Os sábios, como os idiotas, são íntegros. Eles não fingem que são inteligentes e não têm medo de errar. Tentam, erram e conhecem o sabor da derrota. Mas, quando acertam, são geniais. O idiota de hoje pode ser o sábio de amanhã, graças à experiência adquirida. Em compensação, aquele que não possui ânimo para tentar algo novo, não tem chance alguma de aprender.
Erramos e aprendemos o tempo todo, e devemos estimular em cada ser humano a coragem de buscar os seus sonhos mais elevados – mesmo tropeçando. Banindo da nossa cultura o medo ao ridículo, cada um se permitirá um pouco mais de autenticidade em sua maneira de viver.
“Enquanto você se esforça para ser um sujeito normal e fazer tudo igual
Eu do meu lado aprendendo a ser louco,
Um maluco total, na loucura real.”