Por:Julio Machado
Podcast | Sem categoria
maio 2018
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Há um pensamento que diz: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.”A questão básica e imediata que se coloca diante desta afirmação é:
O que é a verdade? De que verdade estamos tratando?
Quem sabe o que é a verdade ou quem é o detentor da verdade?
Vocês hão de convir que são questões bem instigantes e complexas. Quantas guerras, disputas de poder, inimizades e tantas outras divisões, não aconteceram justamente porque cada um dos lados se achava o detentor da razão ou de uma suposta verdade.
Todas as vezes, sem exceção que afirmamos ter razão, na verdade estamos dizendo que temos um ponto de vista a respeito de alguma coisa. A matemática nos ensina o que é a razão quando estudamos os números racionais. Razão é a divisão. Isso quer dizer que todas as vezes que racionalizamos algo, estamos separando em partes, como fazemos no estudo das frações. Dizemos até assim: qual é a razão de 6 sobre 2. A razão… é o traço da fração.
Vamos dar um exemplo de como a razão influencia nos nossos relacionamentos. Cinco cegos foram conhecer um elefante no zoológico. Eles eram muito curiosos para saber como era o corpo do maior mamífero terrestre. O tratador disse que o elefante não se incomodava em ser tocado, mas que não gostava de barulho. Portanto, eles deviam ficar quietos no lugar em que fossem colocados, sem se mexer, mas que podiam apalpar a vontade. Na volta para casa, cada um falou sobre a sua experiência.
O primeiro cego disse que não podia imaginar que um elefante se parecia com um espanador de pó: um bastão fino cheio de pelinhos na ponta.
Um segundo retrucou dizendo que ele estava enganado, pois o elefante que ele havia tocado se parecia mais com uma folha de bananeira.
Um outro cego discordou dizendo que aquele elefante era mais parecido com um tronco de uma árvore.
O quarto cego, zombando dos demais, afirmou convicto que o elefante era como uma grande trouxa de roupa.
O último cego disse que todos estavam enganados, pois o elefante que ele havia tocado era mais parecido com uma mangueira do corpo de bombeiros.
Imaginem a confusão que acontece quando cada um quer defender o seu ponto de vista. Qual dos cegos tinha razão? Poderíamos responder tanto… nenhum deles, como também que todos tinham razão. Justamente porque a razão não é a verdade, mas sim um ponto de vista, que é a vista de um ponto.
Afinal, para que serve a razão? Bem, ela é útil para muitas coisas e não dá para viver sem ela. Serve para analisar, para classificar, para julgar, enfim, para tudo que depende de uma separação. Os computadores baseiam todo seu trabalho no processo racional ,ou seja, através da matemática binária o processador sempre escolhe entre zero e um .Neste caso, a racionalidade é simplesmente genial. Faz cálculos gigantescos em milésimos de segundos.
Quando queremos arrumar o nosso guarda roupa também precisamos da razão para classificar cada coisa e colocá-las no seu devido lugar. Para fazer a análise do solo de uma região, por exemplo, o laboratório precisa separar cada elemento que compõe aquela mostra. Tudo isso é predominantemente racional.
Agora, no que tange aos relacionamentos humanos a razão tem muitas limitações, pois como sua característica é separar , julgar e classificar, então, ela promove mais desavenças do que a união das partes.
A imagem bíblica para a razão é a torre de babel, onde cada um querendo ser maior do que o outro, falam línguas incompreensíveis, tendo como resultado a confusão e a destruição.
Você conhece alguém que briga sem razão, que discute sem razão, que mata sem razão? Até o assaltante na delegacia tenta explicar as razões do seu roubo. O delegado chega a dizer: você tem razão, mas vai preso assim mesmo.
Você conhece alguma guerra sem razão? Veja o caso do Oriente Médio. Há décadas eles brigam com razão. Cada um tem seus motivos, suas justificativas, considerando o seu ponto de vista mais válido do que o do outro. Inclusive, utilizam justificativas religiosas, cada qual com seu texto sagrado: o Alcorão de um lado e o Torá de outro.
Imagine aquela a história dos dois burros unidos por uma corda curta, famintos e cada um puxando para o seu lado querendo comer a ração que se encontra em cada lado do curral. Como a corda é curta, eles não conseguem comer a ração nem de um lado nem do outro. Cada um puxa a corda para o seu lado, inclusive, convidando o outro a comer com ele. Só que o outro quer a mesma coisa, ou seja, “- você come do meu lado primeiro que depois comemos do seu”. E eles continuam famintos, e com a ração sobrando. A única solução para este impasse é que um deles ceda, para que a corda afrouxe. Mas, quem irá ceder? O que tem mais razão? Não, o que tem mais consciência. Aqui introduzimos o contraponto da razão nesta nossa reflexão: a consciência. E é sobre ela que falaremos na próxima semana.