Por:Julio Machado
Podcast
out 2021
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Quando me perguntam qual o maior dever de um pai ou de uma mãe em relação aos seus filhos, digo:
– não penso que seja dar-lhes o sustento material e a moradia;
– penso também que o maior dever de um pai ou de uma mãe não seja o de prover os meios para que os filhos estudem ou tenham uma profissão no futuro;
– não é também o de protegê-los dos perigos da vida e das doenças;
– também acho que o seu dever maior não seja dar carinho ou participar de eventos escolares ou levar para passear ou brincar com eles.
Tudo isso é muito importante e são ingredientes muito necessários para o crescimento e a saúde física e emocional de qualquer pessoa. Mas o que penso ser o maior dever de um pai e de uma mãe é ABENÇOAR SEUS FILHOS. Pois todas as coisas que citamos anteriormente podem faltar numa ou outra família. Você pode justificar até que um pai não teve tempo de acompanhar o crescimento dos filhos. Que a mãe era uma pessoa muito doente e não conseguia dar carinho para as crianças. Que a família não teve condições de prover o estudo para os filhos. Tudo isso é compreensível e até justificável. Mas uma coisa que não pode faltar é a benção dos pais sobre os seus filhos.
Você deve estar se perguntando o que seria abençoar os filhos? Seria ensinar os filhos a tomar a benção dos pais? O filho fala “bença mãe” e ela responde Deus te abençoe?
Não, não é isso que estou querendo dizer. Não que isso seja errado, não tem problema nenhum o filho tomar a benção do pais ou dos avós como se fazia antigamente. Podemos considerar como uma forma de respeito e consideração com os mais velhos. Mas o que eu quero dizer é outra coisa.
Primeiramente a palavra benção precisa se melhor compreendida. Ela é a redução de uma palavra maior que é BENDIÇÃO. Isso mesmo… benção é o mesmo que bendição. Tanto é que o contrário de benção é maldição. Bendição…maldição.
Bendição é bendizer, isto é, tornar algo bem dito, ou seja, bem falado. Abençoamos então os nossos filhos quando não perdemos a fé neles. Quando temos sempre uma palavra de encorajamento e de otimismo, mesmo na hora de corrigi-los ou repreendê-los. Se a criança fez algo que precisa ser corrigido, dizemos que o seu comportamento foi mal e não que ela é uma pessoa má. Não podemos confundir o comportamento que a pessoa fez com o que a pessoa é. Devemos inclusive ressaltar que não esperávamos de uma pessoa tão boa um comportamento tão errado!
Pai, vou fazer uma prova hoje, a sua benção! Diz o filho na saída para o colégio.
Deus te acompanhe meu filho, fique tranquilo que você se sairá muito bem. Não se preocupe se der um branco em alguma questão, pare e respire fundo. Tente fazer o melhor que você puder…… Isso é uma benção.
O contrário seria: Pai, vou fazer uma prova hoje no colégio, a sua benção!
Não vi você estudar hora nenhuma, do jeito que você é lerdo, aposto que vai afundar nessa prova………. Isso é uma maldição.
Claro que um pai ou uma mãe que fala assim, não está desejando o mal para o seu filho. Apenas crê que esteja falando a mais pura verdade e a expondo na sua cara para ver se ele toma jeito. O que os pais gostariam, de fato, é que acontecesse o contrário. Que o seu filho ou filha estudasse mais.
Usamos então, inconscientemente, a maldição como um método na tentativa de provocar mudanças. Isso é uma epidemia social. Mas será que funciona? Acreditamos que não. Ela funcionaria apenas como uma avaliação e um rótulo que gruda na pessoa e só faz que ela se sinta mais culpada e impotente. Afinal dizer que uma pessoa é feia e burra, tem pouco poder de ajudá-la a se tornar mais elegante e inteligente. Afinal, você quer puni-la ou ajudá-la a melhorar?
Mesmo que por instantes percebamos nossos filhos como difíceis ou até mesmo como psiquicamente doentes, e precisemos aceitar esse fato, nunca devemos abandonar a fé neles. Precisamos encontrar forças e inspiração divina para continuarmos acreditando na essência de bondade que existe dentro deles, no desejo que eles têm de desenvolver o melhor deles mesmos. Os filhos percebem quando os pais acreditam neles ou quando os pais têm medo de que a vida deles não vai prosperar. Ter fé nos filhos não significa colocar óculos cor-de-rosa para não ver os seus problemas. Mas sim de não perdemos a capacidade de ver a pepita de ouro que fica escondida no meio do cascalho da vida. De ver quem eles verdadeiramente são, sua essência sagrada, às vezes oculta por detrás das capas de medo, depressão e fracasso.
No momento do casamento o elemento que considero mais importante é a benção dos pais. Abençoar a nova vida que os filhos terão é um ingrediente fundamental para o sucesso do novo casal. Abençoar é apoiar, elogiar, ter bons olhos, principalmente na hora das dificuldades. Amaldiçoar é fofocar, julgar, comparar, criticar, mesmo que a pretexto de estar sendo verdadeiro.
Realmente, em alguns casos, a maldição pode parecer mais verdadeira do que a benção. A pessoa se justifica dizendo que só está falando a verdade e que muita gente pensa do mesmo jeito. Ora temos de convir que uma suposta verdade é apenas a nossa interpretação dos fatos. Não sabemos o que é a verdade, só sabemos da leitura que fazemos das coisas que vemos e ouvimos.
Dizem que praga de mãe… cola. Ou seja, quando maldizemos uma pessoa, isto é, falamos mal dela, principalmente se for um filho ou uma filha sobre os quais temos uma ascensão natural, nossas palavras tem um imenso poder de fixação. Se a mãe falar repetidas vezes que a filha é uma preguiçosa, os céus dizem… amém.
Agora quando abençoamos, não estamos apenas falando daquilo que estamos vendo, mas sobretudo do que queremos ver. Abençoamos o nosso filho que tem dificuldades na escola para que ele encontre forças para superá-las. Por isso que a benção tem um poder criador muito maior do que a maldição. A maldição fala do que está vendo, enquanto a benção diz o que quer ver.
Ninguém deve se preocupar ou se culpar pelas palavras mau-ditas que, certamente, já disseram para os filhos. Na hora da raiva falamos coisas pouco proveitosas para a educação deles. O importante é saber que podemos desmanchar nossas maldições com uma simples palavra de amor e compreensão. Como diz a música: O amor tem feito coisas que até mesmo Deus duvida. Já curou desenganados, já estancou tantas feridas.
Gosto de pensar que seria como gravar uma nova canção sobre uma fita onde estava gravada uma música muita ruim. A última gravação é que fica.