Por:Julio Machado
Podcast
mar 2022
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Como já abordamos num dos nossos primeiros podcasts, o décimo se não me engano, o mais importante na construção da autoestima de uma pessoa é focar a atenção no seu lado bom, nas suas qualidades, ao invés de dar muita importância aos seus defeitos e fragilidades. Ajudaremos nossos filhos a desenvolverem o melhor deles mesmos ensinando-os a ampliarem as suas virtudes e os seus talentos ao invés de ficar insistindo em corrigir os seus defeitos e imperfeições. Acreditamos naquela máxima que diz: Onde você põe a sua atenção, ali cresce. Então se ficarmos prestando muita atenção aos pontos negativos das pessoas eles poderão ser mais reforçados do que eliminados. Por outro lado, se prestarmos mais atenção às qualidades e aos pontos positivos, eles serão muito mais estimulados a crescer, ocupando assim o espaço vazio das imperfeições.
Mas atenção: rasgar elogios a torto e a direito pode desandar a receita. Quando for elogiar é aconselhável evitar julgamentos de caráter. Incentivos do tipo “Você é uma menina muito boazinha, está se saindo muito bem, continue assim…”, não são recomendáveis, porque a menina passa a achar que só será amada se fizer tudo conforme o figurino. Neste caso a ansiedade é fatal. Preferível fazer uma apreciação específica de um determinado comportamento. Por exemplo, poderíamos dizer: “Depois que você arrumou seu armário, ficou bem mais fácil encontrar aquela roupa perdida”… neste caso a mãe leva a filha a concluir, por si mesma, que seu trabalho foi reconhecido e que manter o armário arrumado tem suas vantagens. Já quem parabeniza o filho por ter tirado nota 9, mas pede, em tom de brincadeira, que na próxima tire 10, pode estar criando uma pessoa insegura e incapaz de se sentir satisfeita consigo mesma, mesmo com as naturais imperfeições.
Saber criticar é fundamental. Mas atentem para o primeiro mandamento da construção da autoestima: toda e qualquer crítica deve ser dirigida ao comportamento da pessoa, nunca a ela própria. Quando o menino relapso nos estudos ouve do pai “Você é um vagabundo, não vai dar em nada que preste”, ele acredita inconscientemente nessa maldição e, daí, não se esforça em mudar sua atitude. Mas, o comentário paterno poderia ser feito de uma maneira mais construtiva, como por exemplo:
-“Neste ano não vi você estudar nada, hein? Mas, se você quiser, tenho certeza que conseguirá recuperar suas notas.”
O importante na hora de fazer as correções necessárias na educação dos jovens é descrever o comportamento em questão, como por exemplo: não foi legal você bater na sua irmãzinha; você não cumpriu o nosso combinado…, e demonstrar o que você sente a respeito (sua raiva, sua decepção) e não esquecer de dizer, com todas as letras, como reparar o erro, para que isso não torne a acontecer.
Nunca, jamais, devemos passar um sabão em público. Nada derruba mais o moral e a imagem de uma criança ou de um adolescente, do que criticá-lo ou humilhá-lo na frente de amigos ou familiares.
Humilhar, desqualificar e insultar qualquer pessoa é proibido. Ninguém diz a uma visita que ela é desajeitada porque derrubou o copo de vinho no sofá. No entanto, muitos pais e mães são capazes de soltar os cachorros se o responsável for seu filho. São raros os pais que pedem por favor ou agradecem aos filhos por uma tarefa realizada. Mais fácil a criança ouvir que é uma peste porque largou a roupa no meio da sala ou uma cabeça-de-vento porque esqueceu a chave de casa.
Por outro lado, quando os pais demonstram a sua atenção quando os filhos tem algo a lhes contar, a imagem que o menino e a menina têm de si mesmos cresce e se fortalece. Quando a criança está começando a construir frases, a atitude do pai de querer adivinhar o fim da história, para saber logo o que aconteceu, é uma ducha de água fria. O mesmo acontece quando a menina está contando em detalhes o dia na escola e a mãe fica reclamando do trânsito. A isso chamamos falta de atenção que transmite uma mensagem bem clara e fulminante: no momento tenho algo mais importante a fazer do que te ouvir, por isso não te dou a minha atenção.
Sim, precisamos aprender a ser educadores e isso exige um certo treinamento e uma boa dose de paciência com os nosso próprios erros. Vamos errar e acertar. O lado bom é saber que todo esse esforço e paciência refletirão nos nossos filhos, pois estamos formando os alicerces de uma construção que se manterá pelo resto da vida.
Em um estudo sobre as raízes da imagem positiva, o americano Stanley Coopersmith chegou à conclusão de que pais com autoestima em boa conta têm filhos que também apreciam saudavelmente a si mesmos. Nada a ver com hereditariedade, mas sim com aprendizagem por observação de modelos. Se os pais são pessoas felizes e independentes, cidadãos que respeitam as regras sociais, que investem em suas potencialidades respeitando os próprios valores, os filhos terão um espelho para se mirar. Certamente isso não é uma garantia de que tudo sairá a 100%, mas ajudará muito a adubar a vida destes jovens.